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Revista Época Publica Matéria Sobre Bronies

17 fev

Sim… a primeira grande matéria sobre o fenômeno brony em uma revista de alta circulação já está nas bancas brasileiras, everypony. 

Eu estava atenta a respeito disso pois já fazia um tempo que a jornalista da revista Época Tonia Machado, vinha procurando bronies para entrevistar.

Ela chegou mesmo a entrar em contato comigo, perguntando se eu não tinha algum fã do desenho que fosse menino para indicar, tendo em vista que eu “não poderia ser entrevistada, já que eu era mulher” (toda vez que penso nisso, lembro do americano que falou que não deveria haver distinção entre pegasisters e bronies e confesso que tenho vontade de rir pela ironia da coisa…)

Diante desse pedido, eu já percebi que o foco da matéria não seria o desenho ou seu conteúdo, mas o fato de “meninos gostando de algo para meninas”. Por via das dúvidas, indiquei alguns amigos bronies de mais de 25 anos, profissionais bem sucedidos e estáveis. 

Enfim, após algumas semanas de espera, a matéria saiu na revista Época deste fim de semana.

O foco, como eu desconfiava… a polêmica. A começar pelo título: “Por Que Marmanjos Gostam de Pôneis”? 

(Clique na Imagem Abaixo para ampliar e ler a matéria.)

Por que colocar alguém segurando um balão de pônei genérico e não pôr sequer UMA foto do desenho? ‘-‘

A matéria fala um pouco sobre os bronies, de onde vieram, o passado da franquia My Little Pony e dá uma leve pincelada nos aspectos da nova geração, MLP: FiM, a que conquistou os “marmanjos” em questão.

Dá pra ver que a jornalista fez a lição de casa e sabe do que está falando (aliás, ela chegou a dizer por email que usou o EquestriaBR como fonte de pesquisa; agradecemos), sem trocar nomes de personagens ou erros típicos de encontrar em matérias do gênero.

Apesar da boa intenção, no entanto, há diversos pontos negativos que incomodam aqueles que são fãs (ou bronies) pela imagem que é pintada deles ao público leigo.

– A matéria cita o traço do desenho como a razão para que o público masculino viesse a se interessar por ele. Nesse caso, por que não há uma imagem sequer do desenho para ilustrar ao leitor, e ao invés disso, há a foto de um dos entrevistados segurando um balão de pônei que nem mesmo é no estilo do desenho?

– Foto essa, que por sinal, além de ser motivo de riso (até aí não me surpreende, revistas apelam pra vender), ainda por cima só causam confusão na cabeça do leitor: “são ESSES os pôneis novos de quem esses caras gostam?”

– Impossível falar de bronies sem falar do conteúdo do desenho. Há muita insistência na matéria no fator “homens curtindo algo tão feminino”, mas o fato é que o desenho só consegue isso porque seu conteúdo transcende gêneros, ao trazer aventuras com conflitos verdadeiros, monstros mitológicos e questões morais  —  ao não explicar isso, a matéria torna-se rasa.

– A matéria traz depoimentos de psicólogos, como “identificar-se com um personagem de desenho infantil pode ser uma maneira de expressar emoções reprimidas na vida adulta”. No entanto, falado assim, fora de contexto e sem mais explicações, pode passar a ideia de que bronies nada mais são que adultos problemáticos.

– A jornalista cita Lauren Faust como “criadora das Meninas SuperPoderosas”. Mas foi o marido dela, Craig McCracken, o criador desse desenho. Lauren contribuiu muito para Meninas Super Poderosas, mas como roteirista e desenhista de storyboard da série.

Enfim, além do desserviço que é a foto que ilustra a matéria, o que mais incomoda é realmente a sensação de que é preciso falar do fenômeno “homem gostando de coisa de mulher”, e não do produto em si — “algo tão bom que agrada a todos, homens e mulheres”. O que deveria ser mais importante?

E como disse uma amiga minha ao saber que as opiniões femininas estavam de fora da matéria, “é duro também ver a atitude da mídia contribuindo para esse eterno movimento de que  “quando um desenho ou filme é coisa de menina, é  menosprezado. Mas quando homens se interessam, ganha status de entretenimento de qualidade“. 

(Por sinal, desde o início achei curioso não haver um depoimento sequer de mulheres sobre como elas se sentem a respeito de homens entrando em seu fandom. Quando indaguei o porquê disso a jornalista, ela disse que era porque “a matéria precisava de um foco”. No entanto, sempre que vejo matérias sobre “meninas que jogam games” ou praticam algo tipicamente masculino, em geral há depoimentos dos homens sobre o que pensam a respeito de mulheres entrando “em seu domínio”. Mas quando é o movimento contrário, e homens entram num fandom feminino, a mídia não se interessa em saber o que as meninas que sempre estiveram lá pensam disso…?)

De qualquer maneira, só não me choco mais porque não é de hoje que a Época faz matérias nesse tom a respeito de tribos e sub-culturas — cosplayers também já foram alvo de matérias espetaculosas da revista, há algum tempo atrás.

Enfim, para quem quiser conferir, a edição é a Época 718 – 20/2/2012 (20 de fevereiro de 2012 — a capa é “A Vingança dos Tímidos”), e custa R$ 9,90. 

Fonte: Fórum Sonic Rainboom